A nossa luta é pela vida

Artes da campanha "Chega de fiufiu" , lançada pela Ong Think Olga


Não vivemos em uma sociedade doentia e a cultura do estupro nunca existiu. As mulheres são livres para andar como querem, sem a preocupação de serem assediadas nas ruas e são apenas casos raros a violência contra a mulher. Verdade, me desculpem, tenho que admitir que o machismo e o sexismo não existem e que isso seja apenas invenção das mulheres. Por fim, a luta feminista nunca foi pelos direitos iguais entre os gêneros, nem é contra a falta de liberdade entre os sexos. Apenas chamar a atenção, não é?

Qual tipo de ser humano faz o outro se sentir desconfortável esperando o ônibus? Por usar uma calça legging ou um batom? O que faz uma pessoa parar a outra e chamá-la de gostosa bem pertinho no ouvido? Sabe qual é a questão nesse cenário? Quem faz isso com um indivíduo, provavelmente já fez com outro ou vai fazer outra vez, pode até esquecer do rosto das pessoas que abordou e dos sorrisos, olhares e palavras que lançou, as vezes em minutos. No entanto, quem passa por isso, acredite, essas vítimas lembram por muito mais tempo e ainda mais, muitas vezes até se culpam ou se privam de se sentirem livres para simplesmente sair como querem. 

Já pensou, se culpar por ter sido assediada? Ouvir que a culpa do estupro ter acontecido foi dela? Pense bem, o que ela poderia fazer? Afinal, quando um estupro acontece, é claro que a culpa é da vítima! É um absurdo uma mulher andar sozinha e muitas vezes com roupas provocantes. E o projeto de Lei que proíbe a pílula do dia seguinte como método profilático em casos de violência sexual, é o correto! A mulher não tem o direito pelo seu próprio corpo, isso seria um absurdo. Em que país integro uma mulher poderia ser livre?

À esquerda um dos relatos com a hastag #primeiroassedio/ À direita, um dos comentários voltados a participante do MasterChef Júnior, Valentina

Me desculpem de verdade, afinal, é tudo ‘mimimi’, certo? O que aconteceu com a Valentina, participante do MasterChef Júnior, todos aqueles comentários de assédio voltados para uma criança de 12 anos não deveriam gerar preocupações? Ver a desigualdade até mesmo no salários das mulheres em diversas áreas do mercado de trabalho deveria ser motivo de bater palmas e outra, pode até soar simplório para você, um grande filme como Star Wars ter ameaças de boicote por ter como protagonistas uma mulher e um homem negro, é excelente!? Os números alarmantes de violência contra as mulheres é frescura para você?

A hashtag #primeiroassedio, lançada pelo coletivo Think Olga, ficou nos primeiros lugares do Trending Topics do twitter (tópicos mais comentados), cheias de relatos lamentáveis de assédios que as mulheres sofreram e muita gente desdenhou, minimizou e até debochou da ação, que conta com mais de 29 mil tweets. Esse número parece alto para você? Entre esses 29 mil tweets muitos são relatos de primeiros assédios e você já parou pra pensar nos outros números? Bom, de acordo com dados da 9° edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 90,2% das mulheres e 73,7% dos jovens de 16 a 24 anos afirmam ter medo de sofrer violência sexual. Aproximadamente 48 mil estupros foram registrados no país só em 2014, mas vale lembrar o fato de que em média mais de 30% dos crimes sexuais não são denunciados. Fora os atos de violência doméstica não notificados. Ainda acha que tudo é uma questão de chamar atenção?


“Tudo frescura”, não estar na pele de quem sofre e se sente ameaçado dia após dia, é fácil! Enquanto muitas pessoas ainda enfrentarem a luta contra situações de assédio, preconceito, violência, entre tantas outras que eu poderia colocar aqui, como “frescura”, “mimimi” e “falta do que fazer”, inúmeras vidas continuarão sendo perdidas ou assombradas pelo medo, pelo sentimento de incapacidade de lidar com tudo o que escuta no canto do ouvido, pela preocupação constante. Entenda que a luta é pela vida!

[Valeu Julia Oliveira pela ajuda no texto!]

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