Recomeçar

Me desdobrei para me reinventar. Não fui direto tirar o pó, esvaziar as malas e filtrar emoções. Primeiro, era preciso entender a razão de toda essa limpeza ser necessária. Os cacos precisavam se juntar, mas antes era preciso entender como parei aqui. É, eu sei, temos o infeliz hábito de dar um passo maior que a perna e depois perceber que certas coisas não devem ser feitas. Só que, às vezes, chegamos ao ponto de precisarmos parar e pegar um pouco de ar, para compreender tudo o que está acontecendo, ou pelo menos tentar. Não tem como sempre contar com a impulsividade, mesmo que a coragem e a positividade sejam dominantes. Em alguns dias, precisamos parar. Parar e olhar, observar não só tudo em nossa volta, mas também o que existe dentro de nós. 

Deu vontade de jogar tudo pro ar, ou melhor, tudo fora, colocar um ponto final e ir em frente. Entre tantos caminhos que poderia tomar, lembrei de tudo o que já fiz e dessa forma, percebi que precisava enfrentar tudo cara a cara. Não fui direto atirando tudo no lixo, só sentei, ali, naquele quarto cheio de significados e itens que protagonizaram inúmeras situações decisivas, outras nem tanto, mas que em sua maioria, eram importantes. Sente e contemplei. Sentei, ri, chorei, pensei. Sentei e me reinventei. Talvez seja só uma maneira de ver a situação. Talvez, mas só talvez, a verdade seja que me desdobrei para me redescobrir e resgatar tudo aquilo que um dia fez parte de mim, mas agora, me fiz por inteira. Foi feio, desesperador e ao mesmo tempo com a mais bela paciência. Semelhante a quem monta um castelo de cartas. Só que o meu foi em meio a uma ventania estonteante. Demorou, mas foi a obra mais bem feita, até em seus defeitos, pois é, devemos reconhecer que nem tudo deve ir parar no lixo. Tudo bem ser furacão, garoa ou sol um dia ou outro. Tudo bem parar e se perguntar como é que faz para voltar a respirar direito. Tudo bem sentir que é hora de recomeçar, mesmo que em meio ao escuro.

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