O senhor do ônibus


Foi uma manhã difícil, igual todas as outras estavam sendo há um tempo, mas naquele dia algo diferente aconteceu. Entrei no ônibus, lotado como sempre, e arrumei o melhor lugar possível para me segurar, não era boa em me equilibrar, mas sempre dava um jeito. Eu estava com um amigo, porém estávamos mexendo no celular ao invés de conversarmos. Comecei a ouvir a voz de um senhor dando bom dia para várias pessoas, parecia estar chegando perto de onde eu estava. Tinha um lugarzinho ali, e foi onde ele ficou. Ele deu bom dia para nós e começou a falar que a bolsa dele estava pesada, que todas as ferramentas de trabalho dele estavam ali e que ele já tinha feito várias coisas com elas. Eu, infelizmente achei que só fosse mais um chegando com ‘papinho’ querendo aumentar o ego, é triste quando já esperamos pelo o pior, não é? Eu sei. Voltei a atenção para o meu celular, mas ao mesmo tempo ia ouvindo ele falar e cada vez mais percebia que ele não era só mais um, com certeza ele não era.

“As pessoas só olham para elas mesmas” disse ele, na hora eu precisei bloquear o celular, ele foi falando mais, contando algumas histórias e entre elas sempre tinham frases do tipo: “Por que ao invés de olharmos feio também, não damos bom dia para alguém?” e “Não tenho muito, mas se posso ajudar alguém com o pouco que eu tenho, por que não fazer isso?”, aquilo estava sendo surreal, até hoje quando lembro me pergunto se isso realmente aconteceu. Foi mais de meia hora de conversa, tinha tanto tempo que não ouvia alguém falar de uma forma tão tranquila. Tão simplório para ser inevitável ao esquecimento, não é? No entanto, quantas pessoas nos dão a oportunidade de ouvir conselhos e histórias que apesar de serem acompanhados de uma carga de sofrimentos e esforços, são extremamente bons e nos trazem aprendizados? Foi nesse momento que comecei a pensar no quanto certas coisas são pequenas demais e como as vezes a mente pesa por besteiras desnecessárias. Qual sentido faz pensarmos que sabemos de tudo? Pensarmos que já aprendemos o suficiente para batermos o pé no chão gritando uma verdade que achamos ser absoluta? É cara, desculpa, mas não faz sentido. Tem mais pra ver, pra aprender, mais dor, mais felicidade, tem muito mais além de você.

2 comentários

  1. Oi Nathália! Que lindo teu texto! Enquanto estava lendo fiquei pensando no nome do teu blog e tem tudo a ver. "Permitir-se" Acho que é isso que falta em muitas pessoas de nosso tempo. Marginalizamos tudo e aí, acabamos por não perceber que o outro existe e que ele não é só mais um ser humano. Mas que ele tem sentimentos e histórias como as da gente!

    <3
    Achei lindo teu cantinho e tua forma de escrever.
    Voltarei mais vezes viu! :*

    Vanessa Vieira
    Pensamentos valem mais que ouro

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    1. Concordo contigo, muita gente não se permite ver além de si mesmo, isso é uma pena! E muito obrigada, de verdade, espero que volte mesmo! rs

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